quarta-feira, 23 de junho de 2010

DERCY GONÇALVES


DERCY GONÇALVES

Ainda muito menina
Fugiu da sombra do ninho
Pra seu destino buscar
No caminho, quantos espinhos...
Ela teve que enfrentar

Ô menina... sobreviver custa um preço tão caro...
E pra voce então? Que falta tanto preparo...
Que futuro há de ter?

O destino não estava pronto
Foi ela quem o construiu
Sêde ela tinha de vida
E na liberdade seguiu

Teve até doença grave
Mas ela não padeceu
Porque se fez de muito forte
Mandou às favas até a "morte"
Que no caminho se intrometeu

Com sua beleza escondida...
Sonhar seria ousadia
Um dia virar uma artista

Na sociedade mascarada
Ela sofreu preconceito
Pela fama de "desbocada"

Pra sua força interior
Quem saberia dar valor?

Hollywood glamourosa
Teve até a sua "Diva"
Para as telas do mundo mostrar

E os olhos da Liz Taylor?
Onde até a violeta
Ali podia brilhar?

Teve também ironia
Que foi muita covardia
Para o "belo" padronizar

Foi a grande aparição
De uma deusa da beleza
A eterna Marilyn Monroe

Mas aquele lá de cima
Com exemplos nos ensina

Que o livre-arbítrio nos deu
Mas nós precisamos lutar
E muitos motivos teremos
Para não desanimar

Porque lá do alto ele sempre
Sabe nos avaliar

O grande troféu da Dercy
É muita vida e vida farta
E ao contrário de muita gente
Não se beneficiou de farsa

Hoje o Brasil a aplaude
Fazendo muitos elogios
Seu palavrão é respeitado
Ao ser chamado de "estilo"

Mas para você que é vivida...
Que já aprendeu tanto, tanto... com a vida...

Sabe que palavrão sempre é palavrão
E que não existe fórmula mágica
Porque pra Deus muito interessa
O que vai no coração

Parabéns, Dercy!
Sobreviver custa um preço tão caro...
Mas hoje você agradece
Seus cem anos de preparo

23/06/2007

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A IMPORTÂNCIA DE CADA UM


A IMPORTÂNCIA DE CADA UM

HÁ POUCO TEMPO ATRÁS, EU DESCIA A RUA PRINCIPAL DO MEU BAIRRO, E UMA SENHORA CAMINHAVA NA MINHA FRENTE, CARREGANDO UMA SACOLA ABARROTADA DE COMPRAS.
AO SEU LADO, UM MENINO DE UNS SEIS ANOS, CARREGAVA UMA SACOLA PEQUENA.

NUM CERTO MOMENTO ELE OLHOU PRA ELA E DISSE ASSIM:

__MÃE! TODO MUNDO PODIA SER MUITO RICO, NÉ?
__IMEDIATAMENTE ELA O INTERPELOU, E DISSE COM VOZ BEM FIRME:
__NÃO!!! SE TODO MUNDO FOSSE RICO, NÃO IA TER NINGUÉM PRA PLANTAR, E MUITA GENTE IA PASSAR FOME!!

AQUELE MENINO CONTINUOU OLHANDO PARA O ROSTO DA SUA MÃE, ENQUANTO EU ATRAVESSEI A RUA, E VOLTEI PRA CASA, REFLETINDO SOBRE...

14/06/2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ALUNA DE SANTO ANTÔNIO



ALUNA DE SANTO ANTONIO

Na década de cinquenta, minha mãe estava preocupada demais com questões básicas. O aluguel estava muito atrasado. Eram tantos filhos, que nossa casa parecia uma "creche".
Numa noite, ela teve um sonho com uma imagem de Santo Antonio, igualzinho a que ela tinha no seu oratório.
Nesse sonho, o santo pegou uma folha de papel crepom, arame, cola e tesoura, e sentou-se ao lado dela. Calmamente ele fazia belíssimas rosas, e lhe ensinava, com todos os detalhes.
No dia seguinte, ela foi numa lojinha e comprou fiado, todo o material. As primeiras rosas que ela fez já eram tão lindas, que pareciam ter sido feitas por um profissional.
Durante um bom tempo, ela conseguiu ganhar o dinheiro que precisava, vendendo as flores por encomenda.
Os buquês de noiva fizeram muito sucesso.
Depois disso, ela deixava o oratório sempre enfeitado com rosas brancas, em sinal de agradecimento.

18/12/2004

quinta-feira, 3 de junho de 2010

MOMENTO FANTÁSTICO





MOMENTO FANTÁSTICO


Em 1980, eu estava sozinha no quarto do pensionato onde morava. Era no centro de Belo Horizonte.
As minhas colegas haviam saído; umas para a escola, outras pra namorar. Esse tipo de moradia pode também ser chamado de exílio familiar. Ali não tinha TV, nem rádio. A nossa distração era conversar. Cada uma contava as suas mazelas.

Vendo-me sozinha, resolvi ir num templo Kardecista, que fica no bairro Floresta. Fui a pé, porque não tinha dinheiro pra condução.

Quando atravessava a praça sete, começou a chover fininho e foi aumentando. Eu continuei caminhando debaixo da chuva, porque queria assistir aquela palestra linda, onde só se prega o bem. Lá, fala-se muito sobre a lei de causa e efeito, e o ponto principal é a caridade.
Eles não só falam em Jesus, mas eles praticam Jesus.

Cheguei ali com a roupa colada no corpo, os cabelos escorrendo água, e meus sapatos de salto, encharcados.

Às dezenove horas, uma música clássica começou a tocar baixinho, enquanto o povo chegava. Ficou lotado. Depois, um coral masculino começou a cantar, intercalando com um coral feminino. Cantavam baixo, uma linda melodia.

Ao terminarem, o palestrante rezou o Pai Nosso. Em seguida, falou para nos concentrarmos nos nossos problemas específicos. Nesse momento eu decidi não pensar em nada, porque eram tantos problemas, que eu não saberia escolher um. Preferi deixar Deus em paz!

Fiquei tão tranquila, que não sentia o desconforto daquela roupa molhada, nem de nada! Uma senhora muito gentil aproximou-se e me perguntou se eu queria tomar "passe". Entrei numa sala comprida, quase totalmente escura, e sentei-me.

Um senhor chegou de mansinho e disse com ternura: __Pense em Jesus!
Eu não cheguei a pensar, porque quando ele aproximou as suas mãos da minha cabeça, fazendo com elas, um leve movimento para baixo, eu vi circundando todos os seus dedos, uma luz neon, azul claro.

Era possível! Eu estava vendo a aura daquele servo de Deus. No primeiro instante eu não acreditei que estava realmente vendo uma coisa da qual se falava muito, nas revistas e na televisão.

Arregalei meus olhos, e aquela luz maravilhosa continuava ali, na minha frente.
Aquilo durou tantos minutos, que eu tive tempo de me lembrar do trecho de uma música do Gilberto Gil, que diz assim:

"MINHA AURA CLARA, SÓ QUEM É CLARIVIDENTE PODE VER... PODE VER..."

Então, eu tomei consciência de que se aquela luz estava visível pra mim, era porque naquele momento, eu estava acima da matéria! Era porque eu estava clarividente, assim como dizia a música.

Quando eu me senti "a tal", aquela luz se apagou para os meus olhos!

09/02/2005

(No dia seguinte eu telefonei pra lá, descrevendo aquele senhor, e perguntando qual era o seu nome. Me disseram que ele se chamava Jarbas. A minha intenção era procura-lo para relatar o fato. Porém, a vida corrida deixou o tempo passar tanto, que, em 2008 eu fui lá, mas me informaram que ele havia partido, em 2007)

terça-feira, 1 de junho de 2010

O GRANDE CARUSO, O GRANDE MÁRIO LANZA



O GRANDE CARUSO, O GRANDE MÁRIO LANZA

Numa tarde de 1963, meu pai entrou em casa e disse: __Filhas, passei perto do cinema, e estavam colocando o cartaz de um filme, que tem tudo pra ser uma excelente fita. O nome é: O grande Caruso!
Vou levar vocês... disse ele.

No dia seguinte, eu; ele, e minha irmã mais velha, fomos na sessão das oito horas da noite. A fila estava imensa, mas éramos os primeiros.
Sentamo-nos nas primeiras cadeiras.

O cinema ficou pequeno para tanta gente, e aí as pessoas foram se amontoando no chão, quase invadindo o espaço da tela.
A música orquestrada parou, as luzes se apagaram... começou o filme.

Mário Lanza fazia o papel principal, interpretando o tenor Caruso. Era a história de um camponês muito pobre, que ganhava a vida levando mercadoria numa grande carroça, circulando assim, pelas vilas da Itália.

Quando Mário Lanza começou a cantar, fez-se o maior silêncio naquele cinema. Não se ouvia ninguém comendo pipoca, nem desembrulhando balas, ou bombons.

Nesse momento, senti um frio na espinha, seguido de um arrepio. Fiquei suspensa naquela cadeira e minha emoção, difícil de controlar!
Desejei imensamente que todas as pessoas do mundo estivessem reunidas naquele pequeno cinema de Mariana, para juntos, desfrutarmos da maior maravilha de todos os tempos.

Quando ele terminou essa canção, vestido quase como um mendigo, minhas lágrimas rolaram soltas, enquanto muitos rapazes que também não conseguiram conter suas emoções, batiam seus pés no chão, provocando um imenso estardalhaço.

Era humanamente impossível conter tal emoção. Olhei discretamente para o meu pai e ele parecia paralisado dentro daquele terno escuro que ele usava sempre, em ocasiões especiais.

Não havia o que dizer. Só nos restava o desafio de digerirmos aquele êxtase.

O lanterninha foi obrigado a se intervir, pedindo silêncio e já prevenindo a todos, que, naquele filme, ouviríamos inúmeras outras canções, tão contagiantes quanto aquela.

O enredo era lindo, e durante aquelas duas horas, vimos Mário Lanza cantar inúmeras óperas, sendo uma delas, a preferida do meu pai, que era "Santa Lucia".

Caruso disparou a fazer sucesso e viajava levando na sua voz de ouro, as mais lindas canções napolitanas, para os maiores teatros do mundo inteiro.

Numa de suas apresentações, ele sentiu-se mal. Foi quando começou a expelir sangue pela boca.
Insistiu em continuar cantando, mas num de seus espetáculos, aquele sangue calou para sempre, a sua voz.

06/04/2005



(Meu pai assistiu esse filme umas dez vezes)