segunda-feira, 26 de abril de 2010

LIBERDADE, LIBERDADE



LIBERDADE, LIBERDADE!

Assisto sempre o programa do Jô Soares. Algumas vezes, ele comentou ter ouvido um mendigo dizer entusiasmado para o outro, que o dia seguinte seria feriado. Jô disse que para eles, todos os dias são iguais.
Lembrei-me de um episódio que mostra que a realidade não é bem assim.
Há muito tempro atrás, quando eu morava num pensionato no centro de Belo Horizonte, era feriado e eu fui no parque municipal, junto com uma colega.
Ao passarmos perto do viaduto Castelo Branco, vimos alguns mendigos arrumando os papelões e caixas onde haviam dormido.
Uma senhora, depois de ajeitar a saia em seu corpo, deu a mão a uma criancinha de uns quatro anos de idade. Um senhor levantou-se do chão e também estendeu a mão para aquela criança. De mãos dadas, os três andavam devagarinho naquele passeio, enquanto aquele pai apontava o dedo para os grandes prédios, mostrando-os ao filho.
Logo atrás deles, andava um rapaz, também mendigo. Ele parecia ter uns vinte anos. Sem camisa e com as calças dobradas até o joelho, ele caminhava lentamente com passos largos e firmes.
Do jeito que ele pisava, parecia sentir prazer, cada vez que seus pés descalços tocavam naquele chão.
De cabeça erguida e com os ombros empinados, ele também olhava para aqueles prédios, como se nunca os tivesse visto.
Num certo momento, ele abriu os braços para espreguiçar...
Vendo-o de costas, parecia que aquele jovem caboclo estava tão livre, que podia até voar...

13/04/2005

quarta-feira, 21 de abril de 2010

DORES DA ALMA




DORES DA ALMA


Na década de cinquenta, era comum famílias numerosas.
Eu estava com quatro anos, tinha sete irmãos mais velhos, sendo quatro rapazes e três meninas. Abaixo de mim, havia o Afonsinho que tinha um ano e alguns meses. Antes, minha mãe já havia perdido dois meninos, com dois e três anos de idade.
Minha avó morava conosco e cuidava de nós como se fôssemos seus filhos.

Do segundo que morreu, minha mãe guardou um pedacinho do cabelo, como recordação. Toda vez que a saudade apertava, ela ia para o quarto, sentava-se na cama e tirava do criado mudo uma lata retangular. Com cuidado, pegava a mexinha loura, levando-a carinhosamente até a sua face, onde as lágrimas passavam correndo como uma enxurrada.

Estávamos muito felizes com o Afonsinho. Rostinho arredondado, cabelos castanhos... Ele era muito alegre. Fazia-nos rir demais. Quando minha irmã mais velha o levantava, segurando debaixo dos seus braços, ele chegava a gritar de tanta felicidade, cada vez que ela o movimentava de cima para baixo, fazendo vento no seu rosto. Esse vento fazia a camisolinha que ele vestia, parecer um balão.

Papai era risonho e falante, recitava versos dos grandes poetas, gostava de música clássica, do mesmo jeito que sabia valorizava qualquer folclore. Conversava muito conosco e comentava sobre os enredos das óperas, enquanto as ouvíamos no rádio. Era carinhoso com todos nós e tinha imensa paixão pelo caçula, o Afonsinho. Meu irmãozinho tinha do meu pai, não só o nome, mas também herdara a sua sensibilidade.

Todas as manhãs, papai ou minha irmã mais velha tinham que leva-lo no jardim que havia no quintal, para que ele pudesse deitar o seu rostinho numa flor chamada "madrugada", que era a sua preferida. Ao sentir o contato da flor no seu rosto, ele fechava os olhos e suspirava profundamente. Isso virou um ritual que todos nós assistíamos com emoção.

Chegou o dia em que, ao amanhecer, ele não pediu para ir ao jardim. Estava doente. Minha avó colhia folhas de chá e fazia de tudo, mas aquela febre não passava. Ao entardecer, todos nós já estávamos aflitos. Meu pai ainda não tinha chegado, porque depois do trabalho, ele ia jogar no bar, com os amigos.

Anoiteceu. Afonsinho não reagia. Parecia bem mais magro que naquela mesma manhã. Estávamos todos na sala, onde a minha mãe e minha avó apalpavam constantemente a testa dele, na esperança da febre ceder.

Era quase meia noite, quando papai apareceu na porta, chorando descontroladamente e trazendo na mão, uma "madrugada". Quando nos viu reunidos, ele olhou devagarinho para todos os cantos, como que com medo de deparar com a verdade. Ao ver Afonsinho doente nos braços da minha avó, ele se desesperou.
Com lágrimas escorrendo pelo rosto, contou que no caminho de volta pra casa, ao passar perto do jardim da estação de trem, uma "madrugada" curvou-se diante dele. Ao sentir um arrepio, ele apanhou aquela flor, e logo pensou no Afonsinho. Sentiu que aquilo representava um "mau presságio".
Terminado o seu relato, papai tomou o menino em seus braços e saiu desesperado, levando-o para a rua.

Minha avó continuou com a manta que o envolvia, vazia nos braços, enquanto mamãe gritava: Afonso! Afonso! O menino está sem agasalho...
Na nossa rua havia uma nascente, que se chamava "fonte da saudade". Papai era apaixonado por esse lugar. A água que ele bebia só podia ser de lá.

Sozinho, papai levou o menino até essa fonte, enquanto nós permanecíamos naquela sala, aos prantos. Ele foi lá, em busca de um milagre que pudesse salvar a vida do seu filho.
Poucos minutos depois, quando era exatamente meia noite, papai surgiu novamente naquela porta. Dessa vez, trazendo Afonsinho morto nos braços!

12/07/2004





3 COMENTÁRIOS:

Amapola disse...
CORREÇÃO: Do mesmo jeito que sabia VALORIZAR qualquer folclore.
Virgínia Allan disse...
Ai, Amapola... tão triste esta história... Chorei. Bem que a fonte podia ter operado um milagre, mas parece que era mesmo a vontade de Deus que Afonsinho fosse cheirar as flores madrugadas no jardim do céu. Beijo
Juliana Galante disse...
Amapola
todo dia corro aqui para ler mais um pouquinho da sua obra, a riqueza de detalhes e forma tão verdadeira com que você escreve me deixa completamente encantada... Mas o milagre aconteceu de verdade...Deus é o verdadeiro milagre, e Afonsinho a beleza que Deus escolheu para completar o milafgre do daquele dia...
beijos querida

ps: Sobre o padre, rs, fiquei com um problemão, afinal de contas que pecado uma criança tem? Dizer que falei palavrão era minha salvação...precisaria encontrar outro pecado...rs

ACREDITE SE PUDER





A LIGAÇÃO


Há uns quinze anos atrás, meu irmão Gracy teve um enfarto e ficou no CTI, num hospital em Belo Horizonte. Fomos visitá-lo. Ele estava mal mesmo. Sua esposa, como sempre, igual um anjo da guarda, estava ali, se fazendo de forte, e sendo muito forte.
A pior fase passou, e no dia em que lhe deram alta, logo ao chegar em casa, a companhia telefônica ligou o seu telefone tão esperado. A casa dele era num bairro distante da nossa. O meu telefone havia sido totalmente cortado há muitos meses, mas eu não havia retirado o aparelho, apenas para não deixar o lugar vazio. O da casa da minha mãe, ainda aguardava ser instalado.
Por volta das três horas da tarde, ele tocou... quando atendi, era Gracy, pedindo para que eu chamasse a minha mãe, que ele queria muito, conversar com ela.
Antes que eu dissesse alguma coisa, começou uma chieira na linha, e então eu anotei apressadamente o número dele, e prometi que a levaria no orelhão mais próximo, para eles conversarem.
Corri na casa da minha mãe, que é aqui do lado, e eu e minha irmã mais velha, seguramos no seu braço, com destino ao telefone público.
Porém, antes de sairmos, tive a idéia de verificar o que estava acontecendo com o meu aparelho.
Ao tira-lo do gancho, havia o sinal de discar... disquei o número de Gracy, e dessa vez não havia nenhum chiado. Coloquei uma cadeira para minha mãe, e os dois conversaram durante cinquenta minutos, sem interrupções. No final, eu me despedi dele, e falei sobre esse mistério. Ele sorriu.
Coloquei o telefone no gancho. Tirei-o novamente, para testar. Ele estava novamente sem nenhum sinal... totalmente mudo, o que era normal.
A conta dessa conversação, não foi registrada!

09/02/2005

De lá pra cá, meu irmão vive com seu coração funcionando com 60% de sua capacidade. Sempre que nos encontramos, eu relembro isso, e ele se sente feliz. (05/04/2010)

2 COMENTÁRIOS:

' Giii * disse...
' Nossa .. que misterio .. rs
interessante!

Ah .. que linda, muito obrigada!
agradeço sempre pela mãe que tenho .. ;D
amém.. e que Deus te proteja também!

um beijo! ;*
VASCODAGAMA disse...
Obrigada plo comentario no m/blog

vou voltar
Beijo de Portugal

17 COMENTÁRIOS:

Amapola disse...
Testando espaço para comentário
Virgínia Allan disse...
Que história feliz e inacreditável... ^^... mas muito bonita. Ha, os mistérios que permeiam a vida... se não fossem eles, onde estaria nossa crença? Como dizem, eu creio por que é inacreditável. Beijo
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO disse...
Linda História! Acredito e está muito bem escrita. E vejo vida!
Parabéns, querida!
************

Com voz nascente a fonte nos convida
A renascermos incessantemente
Na luz do antigo sol nu e recente
E no sussurro da noite primitiva.
A Fonte
Sophia de Mello Breyner

Beijos
Boa continuação de Dia!


PS: De 7 meses prá cá o meu coração com marcapasso, vive com 30% da sua capacidade, graças a mim, ao meu fruto e a Deus! Viva a Vida e o Amor que o meu filho me deu quando reapareceu pra mim, quando os médicos me haviam deixado na mesa, pois pensavam que tinham acabado, e eu comecei a sufocar. Mas esta é a minha história, não vou contá-la aqui.
Pérola disse...
Nossa amiga,amei a sua postagem.
Fiquei intrigada,mas eu acredito em milagres e esse foi um deles amada.
Vc é iluminada sabia!!!
Ñ me agradeça pelas visitas,faço por carinho.
Um beijo grande minha querida.
Pérola disse...
Uma linda noite para ti amiga.
Beijos enormes.
Se precisar de mim,GRITE, estou por aqui rs.
Beijosssssssssssssssssssssssss
Fabiano Mayrink disse...
Nossa Amapola que estoria mais interessante, um misterio? uma coincidencia, ou ate mesmo bençao divina da necessidade, vai saber so se sabe que a conta nao foi gerada, fiquei arrepiado, um abraço!
Fabiano Mayrink disse...
ps: que Deus e Jesus realize todos os nossos sonhos bons, os meus e tambem os seus ;)
Pérola disse...
Vim te deixar o meu beijo minha linda.
Beijokas.
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO disse...
Beijos, querida.
Durma bem.
εїз ViViAn ★ Sbrussi /(",)\ disse...
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')))_/.".\_)\))
))/_--. .--_|)))
)/ /(¨.\/.¨)\ \)
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'--'\¨¨.Y¨¨/'--'.
.¨¨\¨¨|¨./ ... Oiiieee amiga!

vim ver as novis e te desejar um ótimo restinho de semana!
adoroooo quando vc me visita!

=D
Pérola disse...
Beijos amada querida.
Beijokas.
RENATA MARIA PARREIRA CORDEIRO disse...
Oi, querida!

"A ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, o faz voar, afastar-se da terra, do ser terrestre, torna-o semi-real e os seus movimentos tão livres!"

A Insustentável leveza do ser, Milan Kundera

Durma bem!
Obrigada!
Beijos, teadoro
Pérola disse...
Amiga, quando eu falei por imail é pq os comentários chegam por imail vc entendeu?
Obrigado por tudo.
Beijokas.
Maria Bonfá disse...
nossa menina cada coisa em? ha mais misterios entre o ceu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia. verdadeiro isso.. beijão querida
mundo azul disse...
________________________________________


Bem, algumas coisas nunca vão ser explicadas...E nem precisam, basta que acreditemos!

Que beleza a conversa poder ter acontecido!

Beijos de luz e o meu carinho...

__________________________________________
jefhcardoso disse...
Olá Maria! Hoje é quarta-feira, uma correria. Não repare em minha visita relâmpago, mas venho lhe convidar para ler o novo capítulo de “O Diário de Bronson (O Chamado)” e deixar o seu comentário.

Retornarei com melhores modos e mais tempo. Tenha uma ótima semana. Abraço do Jefhcardoso!
εїз ViViAn ★ Sbrussi /(",)\ disse...
Oieee amiga!
vim ver as novis e agradecer a sua doce visita em meu blog!

=D


эїє    эїє     эїє    эїє    эїє     эїє
.:¦ﷲ¦:.__.:¦ﷲ¦:.__.:¦ﷲ¦:.__.:¦ﷲ¦:.__.:¦ﷲ¦:.__.:¦ﷲ¦:.


"Pare com isso",
disse a mãe ao perceber que sua filha fazia caretas
para o Buldog do vizinho.
E a menina respondeu,
"Mas foi ele que começou."
Em parte ela estava certa, o Buldog tem naturalmente
uma cara antipática e malvada, mas ela não ganhou nada
tentando competir com ele.
Assim é a pessoa que tenta pagar de igual modo tudo o que recebe.
Na verdade, o esforço é inútil e ela é que sofre mais.


O mundo nos diz: "Vingue-se!"
Jesus nos diz: "Ame ao seu inimigo...
Bendiga os que o maldizem...
Vença o mal com o bem..."


Se você quer saber quão espiritual você é, pergunte-se:
"Qual a minha atitude para com os que me maltratam?"


Lembre-se:
"Quem atira lama nos outros, suja as suas mãos."


"Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível
mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o
momento que um SIM ou um NÃO pode mudar toda a nossa existência."
(Paulo Coelho)


( )( )
(=';' ) beijinhos...uma ótima semaninha!
(,('')♥('')


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