
É TANTA CRUZ PESADA...
Em Março de 1983, eu trabalhava numa empresa de autopeças, quando foi admitida uma moça para trabalhar na mesma sala que eu.
Ela era dinâmica e muito inteligente. Havia concluído o curso normal, e seu sonho era estudar pedagogia. Era coisa de vocação mesmo...
Eu da minha vez, mãe solteira e muito coruja, falava muito sobre o meu filho, e do aniversário de um ano dele, que por ser em Junho, já se aproximava.
Ela era alta, tinha uns vinte anos, e usava sempre uma cinta muito apertada, que parecia deixa-la desconfortável e muito nervosa. Mantinha um regime, mas o resultado não fazia jus ao sacrifício. Seu rosto era bonito, e seus cabelos eram curtos e ondulados. Não era gorda... gorda, mas...
Só depois de um mês, foi que ela contou que também era mãe solteira, e seu filho tinha seis meses de idade.
Relatou a seguinte história:
Era noiva de um rapaz por quem era muito apaixonada. Tinha o plano de se casar, só depois que tivesse passado no vestibular. Porém, ao se engravidar antes disso, eles marcaram a data para quando ela ainda estivesse no terceiro mês de gestação, para que o vestido de noiva ainda lhe caísse bem.
A família dele morava no interior de Minas. Num fim de semana os dois viajaram pra lá, levando convites para os amigos e parentes.
Logo que desembarcaram na rodoviária, ele avistou seu primo na porta do bar da esquina, brigando com outro rapaz. Eles aceleraram os passos. O noivo dela foi apartar a briga, quando levou um tiro e já caiu morto.
Filha única, ela sempre foi muito mimada pelos seus pais pobres e trabalhadores, que faziam de tudo para que nada lhe faltasse.
A sua vida virou um pesadelo.
Ela disse que quando a criança nasceu, o bercinho ficava ao lado da sua cama. Algumas noites depois, bastava o filho adormecer e ela se acomodar, barulhos repetidos aconteciam na madeira do berço. Logo em seguida, ela sentia o cheiro do seu amado. Sentia a presença dele ali...
Ao contar para a família, muitos a levaram em diversos templos, para que aquela manifestação parasse. Nada mudou!
Apesar dela não ter medo, aquilo tudo a deixava agoniada.
Numa noite, depois do barulho e do cheiro, ela viu o seu noivo nitidamente em pé ao lado do berço, contemplando a criança. Sentiu medo, calafrios, arrepios! Tentou gritar, mas a voz não saia. Não conseguia se mexer. Parecia congelada.
A única coisa que conseguiu foi fechar os olhos. Em pensamento ela suplicou que Deus o levasse dali. Ela são saberia e não queria conviver com aquilo.
Depois de muitos minutos ela abriu os olhos, e ele não estava mais lá. Rapidamente ela se levantou, carregou seu filho, e levou-o para o quarto dos avós. Os dois, abismados com o acontecido, levaram até o berço para o quarto deles. Desde então, ela não teve a coragem de dormir no mesmo quarto do bebê.
No quarto dos avós, nenhuma manifestação foi observada.
Vez ou outra ela ouvia barulhos indecifráveis no seu próprio quarto, mas deixava pra lá, porque comparados ao fato daquela aparição, isso virou “café pequeno”.
Naquela empresa ela trabalhou durante poucos meses, e depois demitiu-se.
Nunca mais eu soube dela. Porém há uns dez anos atrás, eu assistia o jornal local da Globo, e o assunto era “obesidade mórbida”. Mostraram um guindaste quebrando a parede de uma casa. Em seguida entrevistaram uma moça sentada no chão, cujo peso era 280 kg, porque ela havia conseguido através do SUS, uma operação de redução do estômago.
Era ela. Apesar da gordura, seu rosto permanecia igual. Sem nenhum constrangimento ela respondia todas as perguntas, mostrando-se alegre por ter conseguido tal assistência.
Fiquei surpresa, e li o nome dela logo abaixo da sua imagem.
Aí então, o guindaste tirou-a do chão, levando-a para o hospital.
(27/12/2010)