
HAVIA UM HOMEM RUDE NO CAMINHO...
Quando eu era criança, sempre ia levar algum recado, numa casa muito distante da nossa.
Ia pela linha do trem, depois entrava à esquerda, num caminho de terra vermelha.
Havia vegetação dos dois lados, e nenhuma casa por perto. Eram curvas e curvas.
Andava, andava, até encontrar um bambuzal imenso. Aí tinha um caminho estreito, cercado por grama, que ia dar direto na casa daquela senhora.
Eu entrava no bambuzal, porque ele era cheio de labirintos, e eu me divertia, como se ali fosse uma casinha.
Eu nunca tinha visto ninguém nesse trajeto, apesar das muitas vezes que fui lá.
Num dia, numa das curvas, vi um homem que vinha carregando muitas ferramentas no ombro. Ele era negro e forte, e aparentava ter uns trinta anos.
Na cabeça, tinha um pano amarrado que lhe cobria a metade da testa. No corpo, uma camisa toda rasgada, e as calças dobradas até no meio da canela.
Ele estava tão sujo de carvão, que nem dava pra saber a cor dos panos que o vestiam.
Seus pés grosseiros e descalços, andavam sem pressa.
Eu; também descalça, caminhava devagar do lado esquerdo, bem rente com a vegetação.
Quando ele me avistou, deu um pulo para a outra beirada, andando com passos largos e apressados, rente com a vegetação do outro lado.
Eu achei estranho, e fiquei olhando pra trás, vendo-o sumir naquela curva.
Aí pensei assim: Oh! O homem ficou com medo de mim...
Toda vez que vejo notícias sobre pedofilia, eu me lembro daquele homem, e sinto por ele, admiração... afeto, gratidão! Depois, sobra um imenso conforto, aqui... dentro do meu peito!
"Havia um homem rude no caminho... no caminho, havia um homem rude e digno"
(16/03/2010)