E ELE... LEVOU AS SUAS HISTÓRIAS

E ELE... LEVOU AS SUAS HISTÓRIAS

Se meu pai não fosse boêmio, na certa teria sido um grande escritor.

Era inteligente, sensível e falante. Aos dezesseis anos, veio da Bahia pra Minas Gerais, sozinho e apenas com a roupa do corpo. Servia ao exército de Ouro Preto, quando foi para a revolução de 1932, como voluntário.

Toda vez que ele falava do seu amigo que, no momento em que os dois terminaram de abrir uma trincheira, foi atingido por uma granada que fez de sua barriga um vulcão em erupção, ele deixava as lágrimas caírem.

Depois, quando dizia que não pôde dar um abraço de despedida nesse amigo, porque não tinha o que abraçar, a sua emoção era tão forte, que, para ameniza-la, ele terminava assobiando o "toque da alvorada", ou cantarolando um daqueles "dobrados" do exército.

Quando havia mais de uma pessoa para ouvi-lo, normalmente ele ficava em pé, para conversar. Era tão eloquente, que, com poucos minutos, a sua platéia ia aumentando, e aí ele se tornava um gigante que roubava e prendia a atenção de todos.

Quando falava de política, ele tinha a mesma bravura que o levou aos campos de batalha.

Quando recitava versos de Castro Alves e Rui Barbosa, parecia que foi ele quem os escreveu.

Quando falava sobre Jesus Cristo, parecia um verdadeiro discípulo, que tivesse estado ao seu lado, há dois mil anos atrás.

A ética e a sensibilidade dele, me convenceram muito mais, do que a sua bravura.

19/12/2004

"Naquela mesa tá faltanto ele... e a saudade dele... tá doendo em mim!

Naquela mesa tá faltando ele... e a saudade dele... em... mim! "

(frase musical do Sérgio Bitencourt)